terça-feira, 3 de agosto de 2010

Assuntos, curiosidades e reportagens

O Fusca do presidente


Há quinze anos o Brasil entrou para a história do setor automotivo global. Não por quebra de recorde mundial de produção ou lançamento de um veículo 100% nacional e revolucionário, mas sim por recolocar em produção veículo que fora descontinuado sete anos antes: o Volkswagen Fusca.

Foi um fato inédito no mundo, único registro da espécie até hoje. E o mais curioso: ressuscitar o Fusca foi pedido di­reto do presidente da República – e pe­dido de presidente não é pedido, é ordem.

Realismo. O renascimento do Fusca foi logo visto pela imprensa como quase que piada de mau gosto: não faltou gente a afirmar, com certa propriedade, que o carro era ultrapassado, inseguro, gastão. Itamar respondeu na época: “O Fusca é o realismo brasileiro e não o sonho megalômano de uma modernidade equivocada”.


Dentro da VW a coisa não foi muito diferente. O renascimento do Fusca foi visto internamente por muitos como um capricho presidencial – e mais na­da. O próprio De Smedt afirmou que a VW não teria “um centavo de lucro” com o retorno do carro à linha: “Quando o presidente deu a idéia do Fusca achei que seria uma boa oportunidade para fabricar mais carros gastando pouco”.

Na matriz a coisa foi ainda pior, sendo o Fusca ressuscitado jamais aceito como tal. Para Wolfsburg o fim da produção do Fusca no Brasil é 1986 e pronto: os modelos da gama a partir de 1993 são considerados mera série especial.

A engenharia recebeu o desafio de fa­bricar novamente um carro que deixara a linha sete anos antes e cujo ferra­mental já fora quase que totalmente vendido. A solução foi a mais simples possível: a VW passou a comprar partes do Fusca, inclusive as estampadas da carroçaria, de quem adquirira seu maquinário para produzir peças de reposição.

Havia espaço de sobra na Anchieta para montar o Fusca, que não utiliza solda em sua construção. E para testar as modificações no motor – ganhou catalisador e alternador – a empresa simplesmente comprou Fuscas em bom estado no mercado de usados e utilizou-os como mulas. Para tornar mais rápido o processo produtivo carroçaria e chassis passaram a ser pintados juntos.

Assim, em 23 de agosto de 1993, prazo enxugadíssimo, Itamar Franco reinaugurou a linha do Fusca na fábrica Anchieta, a bordo de um conversível azul-claro. Viveu seu dia de JK – não por coincidência sentou-se no mesmo lugar no banco traseiro ocupado por Juscelino na clássica imagem de 1959, inauguração da mesma fábrica. Este mesmo Fusca conversível azul está, hoje, na garagem do ex-presidente.

Quem mais levou a sério o renascimento do Fusca, por assim dizer, foi o marketing. A aventura de vender novamente o carro que a própria VW chamou, em 1986, de “descompassado tecnologicamente” foi visto como desafio pessoal por muitos. A agência de publicidade, que fez história com os anúncios da primeira vida do Fusca, também abraçou a causa com carinho.

O resultado final foram peças bem humoradas no melhor estilo da tradicional linha de publicidade do Fusca. Os slogans sorriam: Quer Luxo, Compre o Santana era um deles. Outra peça era propaganda às avessas, que citava dez razões para não comprar um Fusca – a décima: Se você é presidente da Fiat, Ford ou GM.

 
Restaurante em Saltzburg, na Áustria, com formato de Fusca, chama-se "Das Auto"
Que o Fusca é um dos modelos mais presentes na vida das pessoas não há dúvida, tanto é que o carrinho já teve diversas utilidades, seja servindo o exército, nas pistas de corrida e até mesmo em cenas cinematográficas. Mas ninguém ainda havia feito uma casa com o formato do modelo da Volkswagen até o arquiteto Markus Voglreiter colocar essa idéia em prática.
A construção está em Saltzburg (Aústria) e precisou de exatos US$ 2,08 milhões para ficar pronta. E passou a ser um ponto de encontro de fãs não apenas do Fusca, mas também de outros modelos similares, como o New Beetle e o Mini Cooper.

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